segunda-feira, 2 de julho de 2012

Devvarman X Isner e a lógica no esporte

Fala pessoal,

Essa história é antiga, mas eu não conhecia, mesmo como grande fã do tênis.

Vocês acreditariam se eu dissesse que Somdev Devvarman já ganhou título em cima do John Isner?

Alguns devem estar se perguntando quem é Somdev Devvarman, outros devem duvidar que um cara como esse já ganhou um título, ainda mais em cima do Isner.

A história desse jogador é bem curiosa, e resolvi explorá-la um pouco mais por guardar uma relação direta com o esporte universitário americano, do qual já falamos por aqui.

Somdev, pra quem não sabe, é o atual nº 259 do ranking da ATP (seu melhor foi nº 62).

Sua firme empreitada no tênis começou quando o técnico da Universidade de Virginia viajou para buscá-lo na Índia. O cara veio a se tornar bi-campeão do forte campenato universitário americano (2007 e 2008), e, na primeira das finais sua vítima foi justamente o John Isner.

Para uma melhor visualização: http://www.youtube.com/watch?v=fWGrkb_t0BI&feature=related .

O que eu achei curioso nessa história foi a diferença na carreira dos dois dali pra frente, e como essa breve observação pode revelar que muitas das coisas que ouvimos dos especialistas por aí podem ser balela.

Poxa, pensem bem.

Isner e Devvarman sairam praticamente do mesmo lugar, com a diferença de que o Isner perdeu pro indiano, ou seja, o "momento" do cara era melhor.

Os dois se profissionalizaram praticamente ao mesmo tempo, e observando o ranking, vemos que o desempenho do Isner piorou de 2007 para 2008 (terminou 2007 como nº 106, e 2008 como nº 144), enquanto o Devvarman teve uma subida meteórica no mesmo período (terminou 2007 como nº 1033, e 2008 como nº 202).

Hoje Isner é top 10, e Devvarman nº 259. O que explica?

Eu tenho na ponta da língua as respostas que ouvimos todos os dias por aí, e que com certeza você já pensou também: Isner deve treinar mais duro, Isner tinha mais a crescer, Isner tinha mais coração, Isner tinha mais preparo físico, Isner tinha mais força mental, etc, etc...

Mas será que é isso mesmo?

Os caras sairam da mesma situação, qual seja, uma final da NCAA! Será que naquela época o Isner treinava menos do que o Devvarman, então? Será que naquela época o Isner tinha menos força mental?  Porque, pela lógica, se isto explica ele ser melhor que o indiano hoje, também pode explicar ele ser pior do que o indiano em 2007...

Pessoalmente, não tenho uma opinião formada sobre os motivos. Quer dizer, tenho apenas uma opinião "negativa", a de que esse lugares comuns propalados por aí não são a folha de respostas para explicar muita coisa não.

Mudando um pouco o tema, mas com base na mesma situção, lembro de um debate que muitas vezes surge no tênis brasileiro, que é o da dificuldade na transição dos atletas juvenis para o profissional.

Vejam o mesmo exemplo do Isner com o Devvarman. Os dois caras tiveram a base de formação no mesmo contexto (tênis universitário americano), porém o período turbulento de transição aparentemente teve um "outcome" bem distinto para os dois, afinal o americano deslanchou de vez, enquanto o indiano parece ter encontrado uma parede em sua evolução.

Fico aqui pensando numa coisa que ouvi um comentarista de futebol falando uma vez: será que naturalmente não existem os caras que tem potencial para ser nº 1 e outros que tem que aceitar a limitação natural de seu potencial para nº 50 (por exemplo).

É engraçado, porque somos condicionados a acreditar que trabalhando mais duro, fazendo uma alimentação melhor, cultivando uma "força mental", ou fazendo outras coisas mais podemos sempre superar a parede.

Mas será que podemos mesmo? Será que o atleta não tem que aceitar seu limite?

Em princípio, parece que esse conformismo faria um mal danado. Poxa, então o cara tem que se contentar em ser "só" o nº 50? Soa estranho pensar que um atleta pode se conformar...

Por outro lado, será que aceitando seus próprios limites, o atleta não conseguiria, de fato, chegar mais próximo deles?

Dou um exemplo prático.

Imaginem o tenista indo para uma bola na cruzada na corrida, com seu adversário se aproximando da rede. Ele pode se achar o Pete Sampras, e tentar fazer a passada outside-in; ele pode se achar o Hewitt e tentar o lob com top spin; ou então ele pode aceitar suas limitação, e tentar uma passada simples, ou uma bola no pé.

Vejam, no primeiro caso, tentando "se superar", o cara dificilmente ganharia o ponto (erro provável). No segundo caso, aceitando seus limites, o cara ainda permaneceria no ponto (acerto possível).

O mesmo se dá com um jogador de futebol tentando um cruzamento de primeira ao invés de dominar antes a bola, um jogador de basquete que chuta caindo para trás ao invés de trabalhar a bola.

Olhando a "big picture", as chances do cara que aceitou seus limites não melhoraram?

Talvez...

Abraços!

*erros corrigidos

6 comentários:

  1. Genial sua linha de raciocinio, mas penso um pouco diferente na questao de certas pessoas nascerem para uma determinada vocação, tanto na esfera profissional ou esportiva, acredito que com muita dedicação em todos os aspectos, já citados por você e principalmente o lado psicológico da coisa, a pessoa consegue SIM alcançar o que DESEJA, mas esse é o ponto, alguns tenistas desejando alcançar ranking 50º outros entre nos 100º, enfim, a dedicação é o primeiro passo para o sucesso, mas o desejar, o querer é o que realmente seleciona os melhores.
    Um exemplo,Rafael Nadal, um tenista que possui inumeras qualidades dentro de quadra, mas sua maior força é a pscicologica. Observamos que Nadal é um monstro no saibro, mas em outras superficies ele nao chega a ser o favorito, ou seja, ele como um estrategista e observador tentar a focar aquilo que ele é melhor, no que ele faz de melhor.
    É apenas um ponto de vista, tudo realizado com amor e muita força de vontade tudo é possivel e com certeza você como pessoa irá alcançar aquilo que almeja.

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    1. Fala, Diego! Acho que concordamos nas premissas mas não na conclusão. Será que o Meligeni (top 25) tinha menos desejo ou se dedicava menos do que o Marcelo Rios (nº 1), p.ex?

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  2. Olá amigo Zacha queria parabenizar seu blog, encontrei ele no blog de nosso amigo Paulo Cleto, e estou adorando o seu conteúdo e a maneira em que você escreve, parabéns continue assim que eu estarei sempre participando. Bom desejar algo todos nos desejamos, queremos comprar um bom carro uma boa casa, mas é claro tudo isso depende unicamente da nossa vontade de querer. Mas eu não citei no comentário supra e vou lembrar que tênis é um esporte individual, por ter essa característica é onde encontramos mais o lado psicológico do jogador, qualquer tenista confiante o bastante, bem treinado consegue vencer e ser campeão de um Gran Slam, sabemos que existe jogadores que possuem certos talentos, outros acreditam em todas as bolas e por ai vai. Penso que qualquer pratica esportiva depende da pessoa querer e se sacrificar muito para alcançar o seu objetivo.
    Nao fugindo da pergunta, acompanhei pouco o Meligeni, mas poderia ser qualquer tenista e muito provavel que ele sonhou ou desejou ter o ranking Nº. 1 e se dedicou, treinou, só que o seu esforço físico e mental não foram o suficientes para tal conquista. Sabe Zacha posso estar sendo um pouco ignorante com o que penso, mas algo é claro, tudo feito com amor, dedicação e muita vontade nos alcançamos o que queremos.

    Abração Zacha, ate mais.

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  3. Diego, muito obrigado pelas palavras e pela opinião. Contribuindo para o debate, eu concordo com essa sua frase: "só que seu esforço físico e mental não foram suficientes". É este ponto que eu queria levantar no post, o de que mesmo todo o esforço e dedicação de um atleta podem não ser suficientes para alcançar certas conquistas, por motivos alheios a nossa compreensão lógica. A polêmica é justamente essa, pois como você, eu seria ignorante também, pois acho que alcançamos o que queremos com amor/dedicação/vontade. Só que o problema talvez não esteja na falta de vontade, mas sim no exagero do que queremos. Abraço!

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  4. Exatamente Zacha, nos como seres humanos possuímos certos limites a serem respeitados, podemos imaginar milhões de possibilidades de conquistas e o mais importante é nos SERMOS REALISTA com o que queremos. Mas reforço à idéia, tudo amigo, com os requisitos já citados é possível, se algum homem conquistou algo, com certeza outro poderá conquistar, jamais podemos dizer que Pele, Roger Federer e tantos outros esportistas serão os únicos.
    Zacha eu nunca joguei tênis, mas eu só um amante que nem você, eu paro tudo que estou fazendo pra observar partidas de tênis, mas sabes o por quê? Tênis é um esporte completo, o atleta tem que ser completo, estrategicamente, fisicamente, mentalmente, ter uma postura dentro de quadra, fora de quadra, mídia, fãs tudo.
    abraços amigo.

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